Jamais vou esquecer daquele dia. Passava pouco mais das 6h00 quando meu celular tocou e a voz da doutora me dizia: infelizmente não tenho uma boa notícia para te dar, o Gato faleceu nessa madrugada. Eu não deixei que ela falasse mais nada e desabei a chorar. Um vazio tomou conta do meu estômago, minha cabeça girava, um buraco abriu embaixo dos meus pés. Enquanto eu fazia perguntas em meio às lágrimas ouvia que meu filho havia feito a passagem por volta das 2h da manhã, rendido. Ele lutara contra a leucemia com todas as forças que eu também lutei. Dali em diante eu jamais seria a mesma pessoa.
Desde criança eu convivi com animais de estimação. Sempre tive muitos cachorros, gatos, hamster, periquitos e até coelho eu tive. Mas com nenhum deles eu tive um laço como eu tive com o Gato. Meu filho chegou pra mim no dia 13 de janeiro de 2007, enrolado em um pano branco. Ele havia entrado no condomínio em que eu morava e os outros gatos e cachorros da vizinhança estavam batendo nele, segundo uma vizinha me contou. Ela o resgatou, ainda pequeno, filhote de até três meses. Eu já estava deitada tentando dormir quando a campainha tocou. Minha mãe abriu a porta e enquanto a vizinha contava a história para ela, eu o peguei dos braços dela. E então ela me disse: -vocês podem cuidar dele essa noite, até eu achar um lar para ele?
Na mesma hora o levei para minha cama e dormimos juntos. Ele quietinho enrolado no paninho branco. Ao longo dos dias vi minha família se apegar a ele e eu ainda relutante porque ela disse que o levaria. No entanto, todos quiseram ficar com ele e eu questionei se seria a melhor saída, porque um animal é muita responsabilidade. Todos quiseram ele e eu então fui me apegando ao meu pequeno. Morávamos no térreo e não tinha tela nas janelas, logo o espertinho tratava de sair e brincar no jardim. Conforme ia ganhando confiança ia cada vez mais longe.
O vi crescer, me acompanhar em diversos momentos, fazer suas traquinagens, dormir comigo todos os dias - na cabeça, na barriga, entre os seios, nos pés...onde quer que fosse. Ele invadiu minha cama e minha vida. Logo todos da família falavam que ele era meu filho. E pudera! Tantas vezes ele achava realmente que eu era a mãe dele e vinha procurando mamar em mim, chafurdando minha roupa. Quando eu chorava, ele lambia minhas lágrimas. Nunca vi alguém tão companheiro, tão sensível.
Em 2008, em uma dessas escapulidas pela janela, ele voltou ferido. Dias se passavam e a ferida não cicatrizava. O levei ao veterinário e tive o diagnóstico de que ele estava com esporotricose. Em 2003 eu havia perdido um gato com isso, porque até então me diziam não ter cura. E em 2008 após meses com diversos veterinários dizendo que ele não teria cura, eu comecei um tratamento que funcionou. Castrei-o com quase dois anos de idade, porque eu não sabia da importância de se castrar. Na mesma época nos mudamos de apartamento, mas também no mesmo condomínio e com as mesmas características (térreo). Mas dessa vez telamos as janelas.
O tratamento foi árduo porque o bichinho era danado e levado. Miava madrugadas a dentro querendo ir pra rua, lambia a ferida quando não podia. Na época eu tinha acabado de entrar em um novo emprego e justamente no período de experiência - três meses - foi o tempo que ele ficou em tratamento. Eu dormia pouco, acordava de duas em duas horas para dar remédio para ele. Deitava com ele e rezava. Ele parecia entender e se acalmava. No quarto mês de tratamento a ferida cicatrizou, sumiu e deixou apenas uma marquinha em sua pata direita. Ele voltava a ser o velho e bom Gato.
No início de 2011 a mesma vizinha resgatou outro gatinho como ele - preto e filhote. Esse tinha nem um mês de vida e foi rejeitado pela mãe. Ela o entregou a mim para que eu não deixasse ele morrer ao relento. Ela não era boba! Eu não ia deixar ele morrer! Só que dessa vez foi minha mãe que pegou esse e cuidou como filho. Ao mesmo tempo, o Gato adotou o novo filhote como filho também! E como a relação dos dois era bonita!
No final de 2011, quando fui morar com o Rodrigo, às vésperas do casamento, minha mãe também havia se mudado e levado com ela os dois gatos, já que meu apartamento ainda não estava telado. Porém, na transição para a casa nova a relação dos dois gatos estremeceu devido ao estresse. Dias depois eu levava meu filho para sua casa nova, local que ele preencheu até o dia de sua morte. Na véspera do nosso primeiro Natal juntos, o Gato fugiu. Levado como era, ele foi ágil ao abrirmos a porta e só notamos horas depois. Passei o Natal chorando e buscando por ele nas ruas do novo bairro - que era tão desconhecido para ele! Rezei como jamais havia rezado antes e dois dias depois conseguimos reencontrar ele em um feito milagroso e que me mostrou a não desistir jamais. Foi a primeira vez na vida que chorei de alegria.
E então vivemos felizes! Quando me casei em 2012 e fui viajar em lua de mel sentia tanta saudade dele! Eu ainda não tinha passado tantos dias longe dele. Meses depois adotei uma irmã para ele, a Lola. A relação dos dois era estilo Dona Florinda e Seu Madruga - ela vivia dando cacetada nele do nada e ele, bobo que não era, implicava muito com ela. Após um ano consegui ver os dois se entenderem - ainda que houvesse uma ou outra cacetada. Em julho de 2013 ele começou a adoecer, tosse, febre e dificuldade de respirar. Fomos ao veterinário e tratamos. Logo ele estava bom de novo. Mas foi poucos dias antes do meu aniversário que ele voltou a adoecer e eu percebi logo de cara porque ele estava se isolando em pontos da casa e fazendo coisas que nunca fez.
Na véspera do meu aniversário saiu o resultado do exame: ele estava com leucemia. A Felv felina. Não me abalei, porque eu tinha fé na cura. Ele havia se curado uma vez e minha oração era tão poderosa que eu havia encontrado ele quando ele se perdeu em um bairro gigante do Rio. Eu tinha certeza da cura. No dia do meu aniversário eu estava com ele durante a transfusão de sangue dele, nos dias seguintes passei horas com ele no veterinário para tomar remédios, soro e fazer mais exames de acompanhamento. Detalhe: poucos meses antes eu havia começado a trabalhar em um novo setor da empresa e, bem ou mal, ainda estava na experiência.
Aos poucos fui vendo ele ficar mais fraco, mas não por perda de peso - eu conseguia alimentá-lo e a aparência física dele ainda era a mesma. Eram os órgãos que não davam mais conta, a respiração que fraquejava, a despedida que ocorria lentamente. Gastei todas as minhas economias no tratamento dele e graças aos amigos eu recebi doações que foram importantes até o fim da vida dele. Eu notava ele se esforçando para andar, para estar conosco e fazer o que ele sempre fez. Pouco depois do Natal coloquei um cd natalino que eu sempre escutava desde que ele chegou ao mundo. Com esforço e minha ajuda ele se levantou, andou por cada canto da casa e depois se deitou no quarto que é closet.
Ali percebi que eu estava perdendo meu filho. Que Deus estava me dando a chance de me despedir dele. Conversei com ele relembrando fatos da vida dele e da nossa, de como ele sempre foi guerreiro e me ensinou a nunca desistir. Me despedi e ele então também sentiu que realmente tinha que ir. Percebi o chão molhado e vi que saiam lágrimas de seus olhos, principalmente quando eu dizia que não queria que ele fosse embora. Ele também não queria ir.
Passei o ano novo com ele em casa, sabia que ele precisava de mim. Eu teria tantos outros reveillons para comemorar. Na sexta-feira, dia 3 de janeiro de 2013, assim que deu 18h eu corri embora pra casa.Aproveitei que minha supervisora estava de férias e saí na hora (fato que nunca acontecia). Assim que botei os pés em casa fui vê-lo. Rodrigo estava dando de comer a ele e vim blogar, já que era aniversário do blog. Assim que cliquei em "publicar", Rodrigo me chamou pra dizer que havia algo errado com ele. E quando me aproximei dele ele começou a urrar de dor. E corri para ligar para a veterinária dele (que fechava 18h, mas ainda estava fazendo hora extra). Ela me recomendou uma clínica bem perto da minha casa e levei. No caminho ao colocá-lo na casinha de transporte ele urrava, mas quando eu me aproximava e dizia "mamãe tá aqui" ele parava. No carro fomos nos olhando no olho em silêncio e eu o acalmando dizendo que eu estava ali.
Na clínica o exame preliminar confirmou o que a veterinária dele já estava desconfiada: houve metástase. A felv felina é o tipo de câncer que se alastra do sangue para órgãos. Detalhe: no dia seguinte ele iria fazer um exame em outra clínica para confirmar se estava com metástase. Ao confirmar que tinha ido para o pulmão entendi o porque desde julho ele tinha falta de ar e já não brincava tanto como antes. A doutora levou ele para uma jaulinha onde ele recebeu oxigênio e tive de deixá-lo. Aquilo pra mim foi horrível, eu jamais iria abandonar meu filho, mas fui obrigada. Me despedi dele rapidamente ali e fui embora em prantos. Tomei um chá pra conseguir dormir e logo chegar de manhã para levá-lo para fazer o tal exame. Mas era tarde. Aquela ligação acabou com minhas esperanças.
Recebi meu filho, morto, enrolado em um paninho branco. Foi parada cardíaca, que nem com reanimação o trouxeram de volta. E eu não estava ali.Passei a manhã toda ao lado dele até que a remoção do crematório viesse buscá-lo. E quando ele foi eu estava em frangalhos. Voltar pra casa sem ele foi a pior das dores do mundo. Eu tinha a Lola pra me consolar, mas queria ele. Eu sentia falta dele nos meus braços, era onde eu mais sentia falta. O vazio nos braços era do colo que ele sempre ficava, mas o vazio no útero era uma sensação diferente. Eu havia perdido o meu filho. Como pode um ser que não era humano me fazer sentir a perda de um filho?
No dia da cremação eu achava que estava mais forte. Até vê-lo voltar, gelado, no paninho branco. Me despedi dele mais uma vez e dessa vez, fisicamente, para sempre. Quando ele voltou, em cinzas, eu percebi que tudo aquilo que ele me ofereceu em sete anos virou pó. Ele não existia mais, tinha virado história. Sete dias depois eu subi ao cume mais alto da cidade (ou o segundo maior) e joguei as cinzas dele lá do alto. Desapegar do meu filho e deixá-lo fazer sua passagem foi difícil e é até hoje. Eu ainda não consigo falar sobre a morte dele sem chorar, mas já falo dele com saudade, lembrando as coisas boas que ele deixou.
Eu nunca tinha sentido tanto a perda de um animal de estimação, por isso sei que ele era diferente. Como minha mãe me disse "ele era amado e sabia que era amado". Uma amiga que é espírita me disse que eu o ajudei a evoluir seu espírito, todos nós somos seres em evolução. Há alguns dias sonhei com ele, como poucas vezes sonhei até agora. Eu o encontrava dormindo, tal e qual o deixei.E então ele acordava e em um papo mental me dizia que estava com saudade e queria voltar. Me perguntava se podia voltar como meu filho de verdade e eu respondia que por mim sim. E então ele perguntava: - pode ser em janeiro? E eu dizia que janeiro não dava porque eu ainda tinha umas coisas pra arrumar e deixar organizado antes que ele viesse. E então ele se conformava e voltava a dormir o seu soninho.
Há um ano eu perdi o meu filho. Todos os dias eu lembro dele.
Aqui em casa, moramos em casa, fiz minha casa no terreno da família que é bem grande (ainda em fase de construção eterna, obra de igreja,kkkk), temos em convivência pintinhos, galinhas, galos, gatas, cachorros, engraçado que nenhum ataca o outro e nem come por instinto, sabem que são uma família. Perdemos um gato, o único macho, com Aids os outros dois tem leucemia e já se vão três anos, damos bastante amor as gatas se chama deprimida (tem esse nome por que antes do filho que ela adotou o outro gato morrer, ela era arisca mas, depois que este morreu ela ficou tão deprimida que não podia ver ninguém que pedia carinho e hoje a chamo assim, ela come na minha mão) e a outra se chama mimosa, são criadas soltas no quintal, não vão para rua ficam dentro de casa entre minha casa e da mamãe. Você é uma pessoa amável, tem um amor verdadeiro seu gato teve momentos maravilhosos ao seu lado e tenho certeza que isso o fez muito feliz, ter amor, carinho seja para um humano ou para um animal faz bem, só acredito que os bichos retribuem com mais intensidade e fidelidade, quanto mais você o trata bem ele vai se apegando e afeiçoando muito, retribui tudo. Sua ligação com seu gato foi maior que a de muitos seres humanos, dói quando se perde alguém que se ama mas, tudo que fez mostra o bom ser humano que és e Deus olha por isso, seu gato sentiu isso em todos os momentos que viveram juntos e olha que agora tem a Lola que é linda, mimosa e a ama muito. Amei sua foto em que está com ele ao lado, as demais são fofas. Mil bjs.
ResponderExcluirO amor dos animais é mesmo o mais puro de todos!
ResponderExcluirEle vai renascer mais evoluído e ser amado e feliz!Eu também acredito nisso.
Ótimo texto!bjss
que dó!
ResponderExcluiresse amor entre nos e o animais, só explica mesmo quem sente!
O Gato foi feliz encanto esteve entre nós. E mais importante sentiu-se amado! fique bem bis