janeiro 15, 2010

Artigo - Crepusculo

Alguém escreveu algo que já tô a fim de falar a tempos sobre essa saga de Crepúsculo. Nem acho que a galerë que curte ler esse tipo de literatura seja um bando de alienados. Mas que irrita ficarem falando só nisso, discutindo como se fosse uma coisa real, ah irrita! A Bella é a personagem mais idiota, tapada e submissa que eu já vi. E as meninas se espelham nela, o que é terrível.

O autor se aparecer, pode me falar, porque eu recebi por e-mail e não sei a quem creditar, por isso vai em aspas.

saga vampiro


"Sobre a febre do Vampirinho!

Esse é um texto sobre a febre q tá com esse Vampiro e filme, achei legal!
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É possível observar, cada vez mais, uma tendência forte dentro do povo brasileiro no sentido de tentar desmerecer obras voltadas para o entretenimento, principalmente se tal produção conseguir atingir seu principal objetivo: tornar-se popular. A ojeriza aos filmes, livros e séries da chamada “modinha” é tão fácil de se identificar que acaba ficando difícil não entrar na onda dos “haters” e apontar os dedos, muitas vezes sem sequer conhecer a obra. No caso de Crepúsculo, contudo, eu devo intervir e dizer, com total segurança do que digo e sabendo que muitos se voltarão contra mim: é muito pior do que qualquer um jamais se prontificou a dizer.

Aviso: esse texto é muito longo, mas peço encarecidamente que leia com atenção, pois põe em cima da mesa uma das principais influências da juventude do século XXI.

Aconteceu no início desse ano de 2009. Na época, saía com uma mulher que, mesmo para além dos seus vinte anos, estava completamente obcecada pelas páginas de um tal “livro sobre vampiros”. Falava muito da história e sobre como eu tinha semelhanças com um tal de Edward, que por sinal já não era a primeira vez que eu ouvia a referência. Curioso e apaixonado por literatura como sou, não demorou muito e já estava começando as primeiras páginas. E já de cara entrei em pânico. Num livro sobre vampiros, onde eu esperava muita obscuridade, sexo, suspense e terror, a primeira folha trazia uma citação de Gênesis. Exato, a Bíblia!

“Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”. – GEN 3, 3.

Sim, eu deveria ter parado de ler nesse instante. O que esperar de uma autora que decide citar a Bíblia como introdução de um livro supostamente sanguinolento e assassino

Ainda mais um versículo que já deixava claro: esqueça violência e morte, o livro será sobre tentação e pudor. Fazer o quê, enrolei as mangas, concentrei-me no pensamento “ao menos terei conteúdo para criticar depois” e comecei a tortura.

Quem não leu Crepúsculo e somente viu os filmes, jamais entenderá de forma plena o que realmente significa a obra para a mentalidade adolescente. A cada página que eu virava, uma expressão de “eu não acredito que estou lendo isso” formava-se em meu rosto. A história não representa apenas uma trama infantil boba, onde o vampiro principal supostamente é gay e a mocinha é idiota. Essa análise superficial podemos concluir através dos filmes, mas pela leitura chegamos num patamar ainda mais preocupante, que tentarei mostrar abaixo, pedindo que os leitores atentem para o fato de que essa é a obra que mais atingiu a adolescência mundial desde Harry Potter.
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1. O homem perfeito deve ser completamente afeminado.

Essa foi fundamentalmente uma das minhas maiores preocupações em todo o livro. Edward, o vampiro apaixonado por Bella, supostamente representa o “homem ideal” para toda mulher, ou ao menos foi isso que Stephanie Meyer, a autora, tentou traduzir em sua personalidade. E o pior, conseguiu. Minha preocupação tornou-se muito maior quando percebi a quantidade assustadora de mulheres, desde crianças até médicas acima dos quarenta anos, afirmando que aquele era o real homem dos sonhos.
Analisando com frieza, o homem dos sonhos é aquele que não quer ter relações com sua amada, relações essas de qualquer espécie, pois quer protegê-la dos perigos de um vampiro. Edward não é apenas a personificação do “gentleman”, ele é a hipérbole deste. É o exagero de maneira tão desproporcional, que ao invés de queimar sob o sol, brilha como purpurina. O homem que foge dos próprios desejos para supostamente proteger sua frágil e delicada amada. A cada cena um pouco mais quente, o vampirinho foge, renunciando ao tesão e dando espaço ao amor quase platônico e certamente utópico de quem luta com todas as forças para, pelo visto, se interessar por uma mulher. Não surpreende em nada o fato de que, mesmo com mais de cem anos de idade, o sujeito seja virgem.

Sua adoração à Bella, bem como suas falas, são praticamente uma inspiração shakespeariana feitas sem capricho algum. Como um apaixonado cantando para a janela de sua amada, Edward a todo momento, como se isso fosse normal, fala com uma profundidade que mais parece ter saído direto dos poemas suicidas de Aluísio de Azevedo, com um olhar penetrante e hálito de camélias. No livro, a situação é tão nauseante que você chega a imaginar um verdadeiro vampiro cor-de-rosa desmunhecando e rebolando enquanto solta suas pérolas. Para muitas mulheres, contudo, isso ficou marcado como o “homem ideal”. Difícil competir, garanto.

2. Esqueça igualdade, mulheres querem submissão.

Em determinados momentos da leitura, eu chegava ao desespero de imaginar que as mulheres fãs da obra não eram capazes de perceber a nítida e descarada submissão de Bella ao vampiro afeminado. Uma submissão que vai além do tradicional: “vai trabalhar, amor, que eu fico fazendo seu jantar e compro sua cerveja”, ah, antes fosse. Stephanie Meyer não apenas traduz a relação dos dois como sendo entre um dominador e uma dominada, como basicamente escreve isso para todos lerem. Bella é incapaz de decidir sequer se deve atravessar a rua, se não tiver Edward ao seu lado ditando as regras.

O vampiro, nesse momento, assume um posto de macho-alpha (de uma forma bizarra, pois a todo o momento ele deixa claro que gostaria de TER um macho alpha) e faz de Bella seu mais personalizado fantoche. Ela é como um pedaço de bife na frigideira, guiada pelo garfo. Completamente sem vontade própria, Bella, que nitidamente representa todas as mulheres alucinadamente fãs da saga, entrega-se de maneira tal que fica difícil dizer que o que elas realmente buscam é um relacionamento onde o homem tem o mesmo papel fundamental da mulher. Essa desigualdade é demonstrada desde o início, sob a forma de “homem perfeito, meu salvador, meu herói”, quando Edward salva Bella de ser esmagada por um carro. A partir daí, é uma festa de situações ridículas onde a descuidada, frágil e indefesa donzela coloca-se em situações de perigo extremo e é salva no último segundo por seu grande macho-fêmea.


3. Garotas devem ser inseguras, esquisitas e sonhar com o príncipe encantado.

Na minha opinião, o grande motivo pelo qual Crepúsculo tornou-se um dos maiores sucessos de todos os tempos (e que fará muitas pessoas desejarem minha morte) foi o fato de que ele atinge em cheio e de forma espetacular todas as inseguranças que uma mulher pode ter. Mais que isso, ele espreme essas inseguranças para fora, espalha em cada página e utiliza um príncipe encantado para, supostamente, curá-las. Garotas de todo o mundo viram em Bella as mesmas inseguranças que uma adolescente normalmente tem. Os medos, a falta de confiança, a vontade de ser “bela” pelo menos para alguém. É justamente aí que Stephanie Meyer coloca todo seu foco de atenção, traduzindo Bella como um exemplo desproporcional de todos os problemas das adolescentes femininas em apenas uma personagem. Então, surge o grande príncipe, que ignora tudo e apaixona-se perdidamente e sem qualquer motivo em especial (tirando o fato da incapacidade de ler os pensamentos da garota, um plágio descarado ao livro que deu origem à série True Blood).

Mais uma vez, fiquei preocupado pelo fato de que, em momento algum, Stephanie tenta passar uma imagem de superação para Bella. Muito pelo contrário, ela utiliza as inseguranças da personagem para criar vínculos impossíveis de serem quebrados com Edward. Em outras palavras, somente ele torna-se capaz de fazer com que a garota se sinta bem, dando mais exemplos de submissão e dependência extrema do sugador de sangue de ursinho. Ao invés de transmitir uma mensagem de que a mulher precisa se superar e lutar contra preconceitos e situações de opressão da sociedade, Stephanie Meyer escolhe o caminho mais fácil: “apaixone-se por um cara forte e seguro, ele é o suficiente pra você”.

Esses três pontos foram os principais que pude tirar da mensagem do livro e foram suficientes para gerar bastante revolta em minha cabeça, principalmente ao ver a quantidade absurda de fãs por todo o mundo, desesperadas para serem como Bella e encontrarem seus Edward’s, que, fiquei sabendo, só decide ter relações sexuais com a mocinha no último livro da saga.

Decidi, após pensar bastante, que não era necessário expor toda a vida da autora, Stephanie Meyer, responsável por esse caos literário. Somente digo que Stephanie é completamente apaixonada pelo próprio personagem. Sua vida é uma história triste, onde sempre fora a personagem coadjuvante de qualquer trama. Gordinha, isolada, completamente insegura, fez uma versão de si mesma em Bella, porém, na ficção, criou o que não existe na vida real: o príncipe salvador. Casou-se com um Mórmon fanático, o que explica o comportamento de Edward, na visão distorcida de “homem ideal” na mente da autora.

Outro ponto importante de se destacar é a mentalidade do ator Robert Pattinson, que interpreta Edward. Indo de encontro a todos os preconceitos que eu tinha criado, ele deu ESSA ENTREVISTA fenomenal, onde faz uma análise brilhante do comportamento do personagem e sobre o quanto “odeia Edward”. Sugiro que leiam, pois embasa mais ainda os pontos abordados neste texto.

Para finalizar, cito que ainda há esperanças, principalmente porque, da mesma forma que é possível observar milhões de mulheres alucinadas com a trama, criou-se a corrente daquelas que admitiram publicamente: “não quero vampiros afeminados, eu gosto é de homem”. Afinal, vamos combinar, elas podem até gostar do bonitinho usando capa de herói, mas no final, são os que dão os tapas certos e xingam sussurrando no ouvido que elas realmente desejam."


"Na hora do vamos ver ele vira o cu e pede dedinho"
Valeska Popozuda sobre Edward Cullen
Priscilla
Priscilla

Mãe, esposa, jornalista e dona de casa. Adora cuidar do lar, de música e gatos. Aquela dos olhos coloridos.

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