Quem me vê, quem sou eu

Estava ouvindo "Pressentimento", de Emilio Santiago e veio um pensamento em minha cabeça que preciso escrever para por em ordem. Diversas pessoas passaram por minha vida em todas as fases dela. Algumas de forma mais intensa, convivendo a rotina , comendo da minha comida, vestindo da minha roupa, lendo os meus livros, ouvindo as minhas músicas...enfim, eram de casa. Muitas delas sumiram e voltaram tempos depois. Cada época que pegaram de minha vida poderiam não reconhecer em outros tempos. Como?

Amigos que o tempo afastou, que a cretinice distanciou e a falsidade mandou embora se lessem a primeira frase desse post iriam estranhar. "Priscilla ouvindo Emilio Santiago?". Os cretinos ficaram numa época bem imatura da minha vida, quem nunca passou por ela? Eu ouvia rádio pop, ouvia funk e pagode! Dançava hiphop e algo que no meu tempo chamavam de dance. Mas eu também ouvia MPB. Aliás, poucas pessoas sabem que eu dormia ao som de MPB durante uma época da minha vida. Tá, que teve época que dormia ao som de pagode, mas passou e era lei dormir ao som da Nova Brasil FM e MPB FM, isso nos idos de 2001, quando a Nova Brasil ainda estava no dial do Rio.

O que eu era na minha intimidade, poucos sabiam e até hoje poucos sabem. Deve ser estranho pra quem me via em boates saber que eu adorava MPB, já que não me ouviam cantar ou frequentar ambientes do gênero. Tive fases, mas nunca deixei de gostar. Lembro que em 2004 e 2005 eu vivi uma fase à parte no quesito música. Foi quando eu enjoei de pagode e funk, me irritava as canções mela cueca e as letras de baixaria explícita. Me foquei em hiphop e música, que depois fui saber, que era de Emo. Como eu embarcava em Good Charlote e Green Day! Meio que entrei numa fase negra e fui mais pra baixo ainda com essas letras. A fase passou, as pessoas ficaram para trás e segui em uma fase renascimento.

Nesse período de reconstrução, de renascer das cinzas voltei para a MPB totalmente! Já de volta ao Rio (eu morava em Petrópolis), os sambas de raiz fizeram morada e canções mais lights como Vander Lee e Vanessa da Mata tocavam no ipod. As músicas de festa e de emo ficaram para trás. Mas não as músicas animadas, elas sempre tiveram espaço, mas aquelas batidas estilo David Guetta, não.

E assim fui, por fases, ouvindo ora música de festa, ora samba, ora pagode, ora rock, ora flashback anos 90, 80 e 70. Sou assim, mutável! E as músicas refletem bem isso. Meu eu é bem definido pelo que escuto.

Fico imaginando quem me conheceu há uns 12 anos, se visse hoje. Revelaria que em 2000 eu amava Os Travessos, escrevia poesias e músicas, engolia desaforo que era uma beleza, pensava  muito mais nos outros e sofria pra não fazer ninguém sofrer. Daí uma pessoa que me conheceu em 2004 revelaria que eu bebia pra caramba, entornava todas, era arroz de festa e aparentava não tá nem aí pra ninguém e pra vida. Diria que eu era uma patricinha acomodada, que não queria trabalhar e era sustentada pelo pai. Mas olha, quem me conheceu em 2006, diria que eu era fraca emocionalmente, que trabalhava pra caramba e corria atrás do que queria. O povo que me conheceu em 2007 poderia dizer que eu era madura demais pra minha idade, que eu adorava uma festa e um choppinho e o povo de 2008 diria que eu adorava uma night, mas bem controlada (ou não às vezes). Já quem me conheceu em 2010, poderia dizer que eu era séria e responsável demais, mas não abria mão de um sambinha e chopp. Quem me conheceu hoje, diria que eu sou uma chata, que não bebe, é casada, cheia de responsabilidades e só vai a reuniões em casa de amigos.

Perceberam as mudanças com o tempo? Todos somos assim, pena que poucos enxergam que podemos mudar. Ninguém é o mesmo. Eu não cozinhava, tinha mãe pra fazer e que praticamente me expulsava da cozinha. Tinha amigas que tomavam a frente, então tá. Pra quem viu isso, me ver dominando uma cozinha, elaborando pratos, servindo uma mesa e fazendo o povo comer ajoelhado as minhas quitutices, devem estranhar muito. Mas é isso, eu sou tantas, que às vezes nem dá tempo de mostrar.

Eu não era tão vaidosa e quem me viu na fase de nem cuidar dos cabelos, saber que tenho este blog e que, puxa, eu parei de roer unhas!!Tem gente que vai falar: "você roía unhas?". Sim, até os 13 anos, com recaídas até os 16.

Pra essas pessoas que ainda se surpreendem comigo, digo: venha em minha casa, conheça a minha vida, a minha rotina antes de falar que "eu sou assim". Muita gente me julgou pelo que falaram, por um período, por uma coisa que eu disse. Antes de comentar, venha conferir e saber de perto. 

Só sabe o que é uma tormenta quem está no olho do furacão. 

Só sabe quem eu sou, quem passou por tudo ao meu lado e, ainda assim, algumas ainda vão se surpreender comigo em dado momento. Gosto de um texto que diz: 

"Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história!!! Não compare sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida."

Ouvir Emilio Santiago, não me faz uma velha, chata...me faz uma pessoa que conhece e admira a MPB. São letras ótimas e melodias que mexem na alma. Um sambinha que anima o dia e restaura. Mexe com minhas origens e me traz de volta a quem sou.

E quem sou? Sou aquela canção de Madonna, de Chico Buarque, de Isabella Taviani, da Mariah Carey, do Maroon 5, do A-Ha, do Revelação, dos Travessos, da Xuxa, da Vanessa Carlton, do NSync, do Só Pra Contrariar, da Marisa Monte, do Chiclete com Banana, da Cindy Lauper, do Seal, do Outkast, do Mc Marcinho, do Barão Vermelho, da Legião Urbana, do Paralamas do Sucesso, do Capital Inicial, da Britney  Spears, do Maurício Manieri, da Jewel, da Luka, da Des'Ree, do Fagner, do Jorge Vercilo, das Chiquititas, da Ana Carolina, do Bon Jovi, da Shakira, da Pitty, do Jorge Aragão...eu sou essas e sou muitas. E serei tantas outras que ninguém nunca saberá que fui!