Consumismo e o vazio das pessoas

Durante a visita do Papa para a JMJ, aqui no Rio de Janeiro, ouvi diversas vezes ele falando sobre o consumismo e o egoísmo das pessoas. Pessoas que só almejam acumular riquezas, ostentar bens e pensar em si para a obtenção disso, mesmo que passe por cima das pessoas. E isso não é exclusividade dos políticos. Eles são apenas a parte mais escrachada. 

Nessa era de consumismo, as pessoas tem mostrado cada vez mais o vazio que há nelas. Compram apenas para ostentar, competir com o coleguinha. Tem gente que se endivida para comprar o melhor de tudo, apenas para exibir. Pode não ter o que comer o que em casa, mas vai ter uma tv de led de 60 polegadas em uma sala que não comporta uma tv de 32 (porque de nada adiante o tamanho da tv se você não tiver uma distância suficiente para assisti-la). A pessoa pode não ter pacote de internet no celular, mas vai ter o melhor smartphone que existe e só o usará em locais com wi-fi liberado.

A pessoa pode nem ter família grande ou viajar bastante, mas vai ter o maior e mais alto carro que é para todos verem o quanto ele é "poderoso". Aliás, isso de maior carro, maior tv ou maior casa, me lembra uma coisa que eu ouvia muito quando morava em Petrópolis: a síndrome do pau pequeno. Quanto menor o pau, mais o cara gostava de ostentar bens, que é para compensar a falta de prazer que ele daria a sua mulher/ seu homem.

Mas essa falta de prazer vejo que está consigo mesmo. Uma pessoa que precisa o tempo todo comprar coisas e ostentá-la não tem prazer nas coisas pequenas, no que importa para a vida mesmo. De que adianta você ter um carrão se você precisa deixar de fazer programas com a sua família para pagar as prestações dele? De que adianta ter a maior e melhor tv se o bom da vida a gente faz mesmo fora dela? De que adianta ter a casa dos sonhos se você não tempo de aproveitá-la?

Ter para exibir, pra dizer que tem, pra mim é a mesma coisa que não ter. Você não é melhor que qualquer um por ter um carro zero ou um tênis da marca mais cara. Você não é melhor do que ninguém por ter uma casa de três andares, com churrasqueira, hidro e os cambau a quatro. Isso te faz ter conforto, talvez. Mas felicidade? Pergunte a si mesmo se você seria infeliz morando em um apartamento de dois quartos. Sua felicidade não deveria depender de onde está e do que tem e sim, do que você faz dos seus dias, da sua alma.

Não me interessa se sua cozinha foi planejada pela empresa mais renomada ou pelas Casas Bahia. A comida que se prepara nessa cozinha é que deve importar. O bolo não vai desandar se a marca do armário for diferente. Tenho pavor de gente que quando vai me mostrar a casa fica "isso aqui comprei na loja PICA e custou muito caro". Não te perguntei preço, nem marca. Aliás, quando visito a casa de uma pessoa a única coisa que reparo é se ela é feliz ali. Se é um lar.

Conheço gente que vive de coisas simples, mas é super feliz, curte sua casa, recebe os amigos e conheço gente que tem a casa super ultra master blaster que não recebe ninguém, que ainda se sente desconfortável no ambiente em que vive.

E tem a questão do desperdício, né? O consumismo faz as pessoas comprarem apenas por comprar. Sem necessidade, apenas para ter. Acho que só quem passou por aperto financeiro, que nem eu, sabe a dor de comprar algo e não usar. Ver desperdício me incomoda e muito! Se eu compro, eu uso. E tenho umas metas de usar até o fim. Quando não dá, passo adiante.

Conheço gente que já passou muito aperto na vida e não aprendeu. Continua a desperdiçar sem culpa. Porque eles vêem a questão de preencher vazios. Muitas vezes, muitas mesmo, o consumismo não preenche nada, pelo contrário, o buraco só aumenta. 

Meu marido fala que para ser feliz não é preciso muita coisa, só predisposição para isso. Ele diz "tem gente que mora num barraco de dois cômodos, na encosta da favela, com cinco filhos e é feliz". Porque tem gente que mora numa senhora casa, com todo o conforto e ainda reclama? O que realmente faz feliz não se compra: filhos saudáveis, marido amoroso e paz de espírito. As coisas que fazem bem, pode até se comprar, mas não existem preço: comida na mesa e sexo na cama. Você até pode pagar por eles o mais caro valor, mas suprirá suas necessidades mesmo que venha de graça.

Algumas pessoas hoje não tem mais valores e sim, preço. É muito triste ver isso.

Seu filho não precisa do conjunto da Tommy Hilfiger e nem do tênis da Nike para ser feliz. Se ele tem que usar isso para ser aceito em algum lugar, recomendo que você se mude desse lugar. Ensine valores ao seu filho e não preços.

E se sacrificar para ter algo não traz felicidade. O que traz felicidade é passar por sacrifícios para SER alguém. De preferência, um ser melhor.

Fica a pergunta: Você pode se sentir melhor que alguém por ter um carro melhor, uma casa melhor, um celular melhor e uma tv melhor. Mas e quem disse que o outro que tem um carro simples, uma casa simples, um celular simples e uma tv pequena não se sentem felizes assim? 

Se os valores do outro forem diferentes dos seus, de nada adianta sua busca incessante por ser melhor. É uma competição sua consigo mesmo, que muitas vezes não chega a lugar algum, só na infelicidade, frustração e depressão.