Sobre o passado: Who cares?

Existem momentos da vida onde você simplesmente abstrai o desnecessário. Geralmente eles ocorrem com a morte ou nascimento de alguém.São essas duas ocasiões as mais perfeitas para se repensar na vida. Mas não precisou ninguém morrer ou nascer para eu simplesmente abstrair coisas que eu guardava no meu coração e na memória.

Aliás, morreu uma parte de mim quando decidi ignorar a dor sofrida e nasceu algo em mim que eu achei que talvez não fosse possível sentir.

Relembrar fatos traumatizantes pode doer mais, mas no meu caso foi libertador. Eu guardava cada fato a sete chaves apenas para mim ou poucas pessoas que conviveram comigo quando estive no fundo do poço. Ao sair de lá não quis sequer olhar pra trás. Havia dor, sofrimento, trauma, ansiedade e raiva. Mas contar para quem, de certa forma, deveria saber, me deixou mais leve, ainda que eu só tenha contado 10% de toda uma época podre. 

Ainda me pergunto se as pessoas estão preparadas para saber dos 100%, sem dúvidas, se acreditariam mesmo de tão ordinário que são os fatos. Me questiono se elas gostariam de saber, se é necessário que saibam. Porque eu ainda tenho receio de ouvir que elas sabiam e nada fizeram para impedir ou se posicionarem contra.

De tão libertador que foi contar coisas que eu carregava em meu coração, que por bem ou não, mudaram meu jeito de ser com as pessoas, eu passei a abstrair outras coisas que eu gostaria de saber também e perguntar. A frase "não me importa" passava pela minha cabeça diversas vezes, porque eu só queria as coisas boas, o sorriso no rosto, as histórias para rir, as lembranças de outrora.

"Who cares?" com aquilo que não dá pra consertar? O tempo não volta e aquilo que você crê há anos não deixará de crer por eu contar que não é bem assim. E o "não me importa mais" ficava ali ecoando na minha cabeça cada vez que eu pensava em contar algo, perguntar algo...porque realmente não mudaria mais nada na minha vida.

As dores que passei, as noites que não dormi, os dias que fiquei sem comer, o sofrimento e as lágrimas que caíram também não vão voltar e se apagarem. Eu mesma passei a administrar o que passei, sem precisar dar satisfação, perguntar, enfiar o dedo na cara de ninguém e, principalmente, não precisei agir igual aos que erraram, fazendo fofoca, ficando de leva e traz e perpetuando o meu nome para pessoas que eu sequer conheço ou vi na vida.

O maior psicólogo do mundo é o tempo. Ele tem o remédio, a terapia e te dá alta quando você menos imagina. Boa parte das minhas angústias foram embora com a alta que tive há algumas semanas. É um tanto pesado carregar fardos emocionais, esperando que um dia você despeje ele e alguém te ouça e entenda. Acho que só de me livrar disso foi bom, muito bom! Se me entenderam, se mudaram suas opiniões ou não, não me importa. O que importa é eu estar de consciência limpa ano após ano de que não fiz nada que prejudicasse alguém. 

Na tag "desabafo" aqui do blog já falei várias vezes de situações que me aconteceram e já disse que a forma como falei certas coisas, pode ter magoado algumas pessoas, mas as coisas que eu disse não eram mentiras. Não me arrependo do que falei, posso me arrepender de como falei.

Mas é por eu estar com consciência limpa, tranquila que digo que não me importa mais nada. Fico com o que faz bem, com o que anima a alma e transparece no rosto. Superando fantasmas do passado e tendo ao meu lado apenas quem faz bem e não é vampiro a minha vida segue bem e vai em frente.

VAI EM FRENTE. EVOLUI.

Quando uma parte sua morre, uma outra totalmente nova nasce. 

Pra que remexer no que já está morto? Pra que perguntar de coisas que não vão curar o que já está enterrado? Pra que contar fatos que não vão evoluir o interior dos outros? Cada um é responsável pelas suas cinzas. A minha eu joguei ao vento, no tempo.

Não me importa, nada mais importa. Fico com a alegria de viver e que dias melhores venham. Porque ó: caguei.

 »"Right back what is wrong we move along"«