julho 17, 2014

Cartas para...o relato das chopadas


Bianca,

Desculpe não ter ido ao evento que sua turma da faculdade organizou, sei que é seu último período antes de se formar, mas é que enquanto você estava ausente aconteceram algumas coisas. Vou te contar um trauma que carrego e você talvez nem saiba. Poucas ocasiões na minha vida foram tão frustrantes quanto minhas tentativas de me divertir em chopadas. Desde que entrei na faculdade fui à algumas e em todas elas eu me vi chorando quando voltava para casa, pode isso? Você deve se lembrar quanto te contei da primeira vez que fui em uma, organizada pela faculdade de medicina, aquela do dia do maior pé na bunda que tomei na vida. Parecia que algo me alertava que eu não deveria ir, mas fui apenas porque algumas das minhas melhores amigas iriam. Perguntei ao garoto que eu tinha uma "relação" se ele iria e ele disse que não sabia. Então fui leve e solta. 

Eu não tinha parâmetro de chopada e o que era isso. Eu não conseguia chegar até onde distribuíam as bebidas e dependia dos outros para me trazerem copos. Em apenas alguns copos já via o mundo girar e ria de tudo e todos, fiz amizades me metendo em conversas e ri com as pessoas caindo em tombos homéricos. A alegria durou pouco nesse dia quando me perdi das minhas amigas e passei a andar com pessoas que eu conhecia há poucos meses. E então uma delas me apresentou a uma menina que foi quem me trouxe o copo da discórdia. Aquele em que eu bebi e não me lembro de mais nada, apenas daqueles flashes que te contei, em que eu estava mijando com uma desconhecida me olhando e me passando um telefone para falar com alguém que por acaso era o meu grande amor. O elo dela com ele, eu só fui descobrir depois de horas quando o efeito de sei lá o que passou e eu retomei a consciência. Para a minha surpresa, ela era a namorada dele ou quase isso. E em algum momento loucona eu devo ter falado que eu também ficava com ele - e devo ter contado detalhes sórdidos, porque ela continuava a me questionar mesmo depois de eu estar "bem". Ao encontrar minhas amigas fugi dela, que eu não sabia nome, sobrenome e nada além de que ela também ficava com quem eu também mantinha uma "relação" há um bom tempo. Não me doía saber que ele ficava com outra (s), me doía ao lembrar a maldita ligação enquanto eu mijava. E foi indo embora para casa que eu me lembrei das palavras dele de que nunca mais queria falar comigo. De repente eu era a culpada e nem sabia do quê. E foi ao chegar em casa e ligar para ele que descobri o que tinha acontecido. Eu realmente tinha contado para uma desconhecida toda a minha relação com ele, com minhas dúvidas, com coisas que só eu guardava para mim e ela, na mesma hora ligou para ele e cobrou explicações. Para ele aquilo foi um absurdo premeditado por mim e foi essa a acusação dele: que eu queria atrasar a vida dele com outras garotas. E foi assim que eu arrumei um trauma para vida - o de não aceitar bebidas de estranhos. O pior foi que nessa festa eu acabei ficando com um garoto que eu nem queria, porque ele simplesmente me agarrou devido o meu estado alcóolico (em uma ocasião normal eu fugiria ao primeiro sinal de intenção dele). Até então ele e eu flertávamos, mas eu ainda era fiel ao que sentia pelo outro. E então eu fiquei e até gostei, mas foi isso e fim.

A segunda chopada veio pouco depois dessa traumatizante. Ainda estava me curando do fora, estava machucada e ainda revivia aquelas palavras dentro da minha cabeça quando topei ir a mais uma festa organizada pela faculdade de medicina. Eu me senti tão deslocada naquele lugar que a cada cinco minutos me perguntava o que estava fazendo ali. Estava indo com pessoas que eu tinha passado a andar há tão pouco tempo, que nem muito assunto eu tinha. Eu olhava aquelas pessoas bêbadas e não gostava do que via. Eu não queria fazer novas amizades, não queria ficar com ninguém, só queria curtir a minha fossa em paz. Então por que fui sair de casa e gastar dinheiro para nem sequer beber um copinho do líquido dourado? Nem com o show de banda de axé eu consegui me empolgar e fazer aqueles passos de dança que só nós sabemos fazer. Foi difícil voltar à realidade, ser jogada em um ambiente social quando eu ainda estava ferida. Cheguei em casa e parecia que estava doendo mais. Nem mesmo "aquele garoto" eu vi. Certamente estava em casa de conchinha com a nova - e primeira - namorada dele. 

Os meses se passaram e eu voltei a ter vida social. Ainda não acredito como, meses depois da fatídica chopada, voltei a ficar com aquele menino que me agarrou. Ele insistiu tanto que eu achei que tava fazendo um favor, ato de caridade. Mas continuamos a relação e ele foi, de alguma forma, ajudando a tapar a ferida que o outro abriu, sem termos que namorar oficialmente. Surgiu o convite de uma nova chopada, onde eu iria de VIP e não tinha como negar. Até cheguei a perguntar a esse menino que eu ficava, se ele iria e ele respondeu que não sabia (tal qual o outro). E então aproveitei aquela chopada como não tinha aproveitado nenhuma outra: bebendo, dançando e me divertindo com minhas amigas. O teor alcoólico não estava tão alto quando encontrei o outro que me deu um pé na bunda. Ele já estava solteiro - o namoro não durou muito - e mesmo assim nem olhou para mim. Aquilo me doeu. Respirei fundo e continuei a me divertir na medida do possível, rejeitando investidas de outros rapazes e com a cabeça um tanto perturbada. A ferida não estava cicatrizada, percebi. Mas não me deixei abater em nenhum momento. E então as coisas foram acontecendo muito rápido. Saí da área vip e fui para a pista encontrar outras amigas. Avistei meu atual boy e antes que eu fosse ao encontro dele ouvia frases de algumas pessoas de "eu não sabia", "eu juro que estou tão surpresa" e não entendia. Foi quando me juntei as outras amigas que percebi que meu boy, aquele que insistiu horrores para ficar comigo, estava em um relacionamento com uma colega minha! Fui tão fria quanto uma pedra de gelo. Eu olhei para os dois, dei oi e saí dali com outra amiga. Enquanto voltava para a área VIP passei pelo outro do pé na bunda e vi que ele se divertia muito, sem nem ligar para a minha presença. Minha cabeça começou a dar voltas, um bêbado passou por mim e quase rasgou minha orelha enquanto levava embora meu brinco, aquele que eu adorava, agarrado nele. Mas nem parei para procurar, mais nada tinha importância. Eu estava em choque, horas antes havia falado com o garoto que, até então, estava comigo e ele agiu como se eu fosse a única. Eu nem gostava dele tanto assim, mas foi a situação de ser trocada mais uma vez que me deixou mal. Além disso era ver o grande amor livre e solto, como eu, e não estar comigo. A ferida foi exposta e abria cada vez mais. Eu estava destroçada.

Mais de um ano se passou até que voltei a ir em uma nova chopada. E é aí que entra a grande novidade para você, Bibi. Estava tentando me divertir com um inconstante rapaz com quem eu me relacionava e vivia em eterno iô-iô. Era minha cartada final, após diversas situações que eu estava cansada de passar.Eu mal tinha bebido naquele dia, mas ele sim, estava entornando todas. Em poucas horas de festa ele me largou no meio da galera - que nem gostava de mim - e foi se sarrar em outra. Eu queria ir embora, mas precisava dele para isso e então fiquei, me sujeitando aquilo tudo.  Minha última chopada teve o que faltava para terminar minha desgraça: ser humilhada por pessoas que não gostavam de mim (e calada), vê-lo ir ficar com outra e, pra fechar com chave de ouro: levar um tapa e chute dele. Minha frieza aguentou aquilo até que eu pudesse pegar minhas coisas no carro de um amigo nosso. Minha raiva era tanta que eu não queria mais saber daquele lugar, dele e daqueles amigos bisonhos. Peguei minha bolsa e fui embora como se nada tivesse acontecido. Dei tchau e prometi nunca mais ir nesse tipo de evento.

Todas as vezes que fui em uma festa dessa me dei mal. Não tenho uma história boa para contar! Por isso recusei o convite para ir à chopada que a sua turma de medicina organizou. A culpa não foi minha, talvez seja desses boçais que entraram no meu caminho, mas eu prefiro crer, amiga, que a culpa é da cerveja.

Beijos
Lili

Priscilla
Priscilla

Mãe, esposa, jornalista e dona de casa. Adora cuidar do lar, de música e gatos. Aquela dos olhos coloridos.

Um comentário:

  1. Nunca fui a uma chopada. Lendo esse relato, tenho certeza que fiz a coisa certa. Principalmente porque sempre achei que só encontraria gente fdp lá, só querendo pegação e fazendo td sem a menor consciência.

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