Um dos post que mais me pediam para fazer era a respeito de
compras em sites do exterior, principalmente os chineses, como o AliExpress.
Por mais que eu respondesse que não comprava – exceto uma vez que fiz pedido de
capas de celular pelo Ebay – algumas pessoas ora me pediam explicações ora me
julgavam. Primeiro, porque esperam de mim uma posição para decisões que elas
vão tomar. Segundo, porque eu como blogueira deveria comprar, afinal outras
compravam e faziam posts bombadíssimos sobre suas comprinhas em sites do
oriente.
Para chegar na minha resposta preciso contar uma historinha
antes. Meu primeiro emprego quando vim morar no Rio foi como auxiliar
administrativo em uma indústria do ramo de moda. Nessa confecção eu pude
conhecer a fundo a realidade das pessoas que entregam o produto bonitinho na
loja para o cliente. Do meu escritório fechadinho e com ar condicionado eu ia
para o chão de fábrica lidar com cada trabalhador, de serviços gerais até chefe
de costura, passando pelo setor de corte, modelista, passadeira, estoquista,
costureiras, bordadeiras, estilista e, claro, os donos.
A verdade é que para cada uma peça que você pague R$100,
esses trabalhadores receberão uma parte ínfima por elas. E eu digo isso com
propriedade, porque era eu que fazia o pagamento deles, era quem dava dinheiro
para cada compra de aviamento e conversava com eles sobre as dificuldades do
dia a dia. No final do mês, o salário de quem dedicou horas e horas (muitas
extras) em troca de um salário mínimo. Lembrando que a jornada não era fácil.
Era de 8h às 18h, trabalhando alguns sábados, domingos e feriados
(principalmente quando o lançamento da coleção se aproximava).
A partir da minha experiência nós vamos para a parte
oriental do mundo. Diversos países como China, Índia, Bangladesh, entre outros,
possuem mão-de-obra extremamente barata, porque as pessoas se sujeitam a isso
em troca de qualquer dinheiro ou comida. Outros, como existe em outras grandes
capitais, como São Paulo, utilizam de escravidão – e entram aí qualquer tipo de
estrangeiros em seus países, como bolivianos, africanos e refugiados de guerra.
Quando sites vendem roupas a preços extremamente baratos do
que os vendidos no Brasil eu já estranho. Tiro como comparação as roupas que eu
adquiro na Rua Teresa, em Petrópolis (RJ), porque lá são confecções pequenas
que vendem, muitas vezes, em suas lojas próprias. Ou seja, o custo delas é o
real e sem abusos (os impostos por mais abusivos, são necessários à
sobrevivência da própria empresa e cidade que a sediam). Quando pago R$ 15 em
um blusa de malha e R$ 50 em uma calça jeans eu vejo que não estou compactuando
com a exploração de ninguém, muito pelo contrário. Em Petrópolis, pelo menos, a
confecção é um dos motores que movimenta a economia da cidade.
Sempre estranhei o fato de uma roupa ser barata demais,
sempre achei curioso o fato de a produção em massa conseguir números em tão
pouco tempo e nunca confiei naquilo que não há legislação disponível. Quando
via marcas indo para essas regiões do planeta em busca de mão-de-obra barata eu
ficava nervosa, porque eles tiram do país deles, que não aceita as condições e
valores e optam por um que se sujeite a tudo.
O desabamento do prédio Rana Plaza, em 2013, onde mais de
mil trabalhadores de Bangladesh morreram enquanto faziam roupas para marcas americanas
em condições desumanas, levantou a questão, mas vi muitas pessoas (inclusive
formadores de opinião), taparem os olhos para o acontecido. Grandes
conglomerados de moda estavam envolvidos e nada fizeram. Aqui no Brasil mesmo
tivemos escândalos envolvendo nomes de famosas fast-fashion. Por esse motivo eu
prefiro comprar na Riachuelo, que possui fábricas no Brasil, a comprar das que
trazem do exterior – com selo importado, claro, mas que diferença faz ao
consumidor se vem da Holanda, Bélgica ou China?
O dia 24 de abril ficou conhecido como Dia da Revolução
Fashion por causa da tragédia em Bangladesh. Para que o acontecido não ficasse
esquecido a organização sem fins lucrativos Fashion Revolution criou uma
vending machine para conscientizar as pessoas do que ocorre quando uma pessoa
compra uma peça de roupa muito barata. As máquinas foram instaladas em Berlim e
chamaram atenção dos pedestres oferecendo camisetas por apenas 2 euros.
Ao clicarem em comprar era exibido um vídeo sobre as
condições de trabalho de quem fabricava aquela peça. Ao final, era exibida a
opção: comprar ou doar. Não é difícil compreender porque as vendas não foram
boas.
Depois de tudo isso, acho que está mais que notável a
explicação de porque não compro nada nesses sites orientais: por causa da
exploração de trabalho.
Nessa linha de raciocínio não compro maquiagem ao qual não
sei a procedência, por causa das leis de testes em animais e outros componentes
químicos. E vocês o que fazem a respeito dessas compras?
Ta certinha!!!!bjk
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