janeiro 13, 2018

Dois anos de amamentação



Essa semana postei a imagem que abre esse post no Instagram. Ela é o retrato da minha realidade. Uma mãe que trabalha e ainda amamenta. Dois anos amamentando. Jamais passou pela minha cabeça chegar a tanto. Eu pensava que chegaria a um ano e acabaria. No entanto, o fato do Ivan ser alérgico a leite de vaca mudou todo meu pensamento a respeito de amamentação. Ele nunca chegou a tomar nenhum leite de lata – até porque para ele poder tomar teria que ser essas especiais que custam em torno de R$ 170,00 a unidade, que duraria uma semana.

Pensei: tenho o melhor leite do mundo, de graça, pra que oferecer outro? E seguimos felizes em livre demanda por um ano e nove meses. Quando Ivan completou essa idade eu comecei a ficar cansada demais, ele me demandava muito e queria mamar dia e noite. Eu tinha voltado a ser um peito ambulante como quando ele era recém-nascido. E isso não estava me deixando mais feliz.

REW << novembro de 2015

Tive um parto normal tranquilo, muito colostro e pega correta. Quando o leite desceu, três dias depois, no dia do meu aniversário, eu achei que fosse explodir pelas tetas. O leite desceu em muita quantidade e meu peito não aguentou a demanda. Muita dor, calor nas mamas, um bebê que mamava e se afogava em tanto leite. Parecia que ele não mamava o suficiente, porque o peito continuava cheio.

Sofri com muita dor, sem poder mexer os braços e sem curtir meu bebê como deveria, porque quando ele dormia eu tinha que encontrar formas de amenizar o meu sofrimento. O seio doía sem o bebê mamar. Foram dez dias de muita dor, sofrendo com a apojadura (momento quando o leite desce). Li diversos artigos sobre o assunto e todos diziam que era normal essa dor, afinal, o duto mamário ficou anos sem passar nada ali e de repente páááaá. Um volume muito grande de leite passando ali.

Ganhei bomba manual de leite, elétrica e nada parecia resolver. Uma enfermeira neo natal, que é da família do meu marido, foi lá em casa duas ou três vezes me ajudar a ordenhar, porque eu não sabia e conseguia de tanta dor. Massagens, ordenhas, compressas, concha pro peito e enfim as dores pararam, mas fui diagnosticada com hiperlactação – quando se produz mais leite que o necessário.

Eu vivia ordenhando e Ivan não dormia muito, como contei no post sobre a falta de sono do bebê. Apenas quando ele completou cinco meses que estabilizamos as mamadas e deixei de ter que ordenhar. Até então, a amamentação era um sofrimento pra mim, porque me cansava demais. Por outro lado, eu via meu filho crescendo super bem e com saúde. E isso fazia tudo valer a pena.

Sono

Vivi um momento maravilhoso da amamentação desde que Ivan tinha cinco meses até ele ter um ano e nove meses. O que mais pesou foi o sono, quando ele me acordava para mamar. Como ele dormia comigo, inevitavelmente ele acordava e tinha peito à disposição. Foi quando comecei a me cansar disso e passei ele para a própria cama, quando ele tinha um ano e cinco meses. A partir dali passei um tempo ensinando ele a dormir sozinho e quase conseguimos o desmame noturno. No início ele mamava antes de dormir, rezávamos, eu ficava ali fazendo carinho nele e quando ele pegava no sono eu saia. Ele acordava na madrugada e me procurava no meu quarto uma ou duas vezes por noite. Até que foi diminuindo e não me acordava mais.

Ele entrou na escola e se manteve assim até entrar um menino que era bem carente de mãe e passava o dia chamando pela mãe. Não sei o que isso despertou no Ivan, mas ele passou a me requisitar muitas vezes. Mais peito durante o dia e noite. Várias acordadas na madrugada para mamar. Eu ainda tenho muito leite – posso apertar a teta um pouco que o jato esguicha – então não falta o que ter que sugar, como muitos comentam sobre amamentação prolongada.

A questão é o afeto e são poucas pessoas que entendem essa necessidade da criança. Falam: “ainda mama? Você tem que tirar! Você sabe que ele não precisa mais disso, né? Você sabe que isso é só de chupeta, né? O seu leite não nutre mais ele. Ele já come, não precisa de peito. O problema está em você que não quer que ele cresça e deixe de ser bebê.”

Sério, já ouvi de um tudo e de gente que nem mãe é. A pediatra do Ivan não questiona o fato de eu ainda amamentar, mas as pessoas que me veem dando peito a ele se incomodam. E eu não entendo o porquê disso! Quando me perguntam eu sou sincera: hoje, janeiro de 2018, eu gostaria de desmamar, pelo simples fato que atrapalha meu sono. Ivan ainda acorda para mamar uma ou duas vezes por noite.

Rotina

Estou em um processo de ir cortando isso aos poucos. Tem dia que ele só quer mamar quando o sol já nasceu – isso ajuda muito, mesmo quando quero dormir até mais tarde -, mas o fato é que ele não usa mais chupeta e tem necessidade de sucção (bebês até três anos tem essa necessidade). Sou do time das que vão dando um jeitinho aqui e ali até o dia em que a criança decide ela mesma que não quer mais.

Tive momentos de que o dia do desmame chegaria nos últimos meses, a começar com o noturno. Ele é o marco. Se a criança já não mama à noite, de dia é mais fácil quando se tem escola e a mãe trabalha fora. Hoje Ivan mama quando acorda e algumas vezes ao dia (umas quatro) e antes de dormir. A da madrugada varia. Tem noite que acorda várias vezes, tem noite que nenhuma. Mas isso nas férias, vamos ver quando as aulas voltarem e o amiguinho também.

O que preciso hoje é voltar a fazer ele dormir a noite toda, porque é essa parte que mais me desgasta. Na rua ele não pede peito e, quando pede, eu nego e fica tudo bem. Explico que ali não tem necessidade ou não dá, dependendo da roupa. Não por receio de amamentar na rua, mas pra ele entender que hoje o motivo do peito é algo restrito a nossa casa: momento de conforto, pra dormir ou acordar.

O que tem acontecido é que ele já mama, se vira e depois vai dormir sozinho. Já não mama dormindo no peito. Isso ele fazia bem pequeno e depois dessa crise de um ano e nove meses também, mas eu estava um caco e pra amamentar dessa forma não dá, né? Mas eu conversava, falava que não dava mais pra mamãe até dormir. Deitava ele no travesseiro e dava peito de lado e depois tirava, mas ficava ali deitada com ele. Foi um processo de dias até ele entender que ia mamar sentado, depois deitar juntinho e dormir sozinho.

Uma rotina de sono também ajuda muito. Sempre tivemos e quando minha mãe ficou na minha casa em pós operatório deixamos de ter e vi o quanto isso afetou a qualidade do sono. Hoje já ponho uma música calma, tranquila (vou por o vídeo de música de dormir que uso no final) e iniciando a rotina: põe pijama, mama, carinho, cama e dorme.

O peito, aos dois anos, virou carinho. Afeto. E isso é maravilhoso. Nada e ninguém opinando muda. Foi uma escolha minha. Quando me falam “ele não tem mais necessidade disso”, eu falo: tem sim! Afeto é necessidade, leite materno tem anticorpos e, ainda mais no caso dele de APLV, tem o cálcio e proteínas que ele precisa, que um leite de lata não teria. Além de ser super caro e essa gente que opina não compra uma.

Vou deixando ele escolher o momento dele de desmame, mas sigo afirmando que amamentar um bebê de dois anos é tão prazeroso quanto um bebê pequeno. Eles interagem e dizem o quanto gostam, fazem carinho, olho no olho e se percebe um vínculo único ali. Eu optei por fazer amamentação em livre demanda prolongada. A OMS indica no mínimo dois anos e fico feliz de ter chegado a esse marco.

Música para acalmar na hora do sono:



Priscilla
Priscilla

Mãe, esposa, jornalista e dona de casa. Adora cuidar do lar, de música e gatos. Aquela dos olhos coloridos.

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